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Soja e câncer de mama

Atualizado: 20 de out. de 2020

Essa semana, no nosso grupo de estudos, tivemos a importante discussão sobre a relação entre o consumo de soja e o câncer de mama. Nesse debate, queríamos aprofundar ainda mais o tema e debatemos, na verdade, uma classe chamada fitoestrógenos. Estes, são compostos bioativos encontrados na nossa alimentação que possuem muitas similaridades com a molécula do estrogênio podendo, em alguns casos, ativar esse receptor.


Os principais fitoestrógenos são:

  • Lignanas: encontradas em cereais integrais, linhaça e oleaginosas

  • Isoflavonoides: representada especialmente pela daizeína e genisteína presentes na soja, mas também encontradas em broto de alfafa, grão de bico e feijão carioca

  • Coumestan: encontrado principalmente no broto da alfafa e em feijões

O que observamos na literatura é uma menor incidência de câncer de mama em mulheres asiáticas (que residem na Ásia, especialmente China, Japão, Coreia e Indonésia), que possuem o hábito de consumir soja. Uma das hipóteses para isso é que o consumo regular de fitoestrógenos na alimentação dessas mulheres possui a capacidade de modular o receptor do estrogênio.

Sabemos, hoje, que há dois tipos de receptores de estrogênio: o receptor a e o b. O receptor a (REa) está muito relacionado com sinalizações de proliferação celular e está presente principalmente no tecido mamário e uterino. Já o receptor b (REb), possui a função de contra-regular o REa, além de auxiliar na manutenção da homeostase de vários tecidos como intestino, cérebro e osso.

É importante ressaltar que a genisteína, o principal fitoestrógeno da soja, possui uma afinidade reduzida com o REa, de 5% em relação a aproximadamente 36% do REb. Só começamos a demonstrar esse efeito quando temos um consumo diário de pelo menos 50mg de isoflavona por dia, o que seria equivalente a 200g de tofu ou a 2,0L de leite de soja diário.

A falta do estrogênio, que ocorre na menopausa e durante o tratamento oncológico para tumores de mama com receptor de estrogênio e progesterona positivos, gera uma série de efeitos colaterais deletérios para essa mulher e, então, começamos a entender a polêmica sobre esse assunto. Se suplementarmos esses fioestrógenos para essas mulheres, teremos efeitos positivos (melhora nesse sintoma) ou negativos (como a ativação desses receptores)?

Essa resposta ainda não está clara na literatura. Alguns estudos em células mostram que esse consumo pode aumentar a proliferação. Outros, trazem que pode proteger, aumentando vias de apoptose, por exemplo. Essa ausência de consenso nos estudos está muito relacionada à dificuldade de se estudar esses componentes. Para possuir um efeito biológico significativo, é necessário que haja, por exemplo, conversão dessa molécula por bactérias intestinais. Nos casos em que a pessoa está com disbiose, pode haver dificuldade nesta conversão e menor efeito.

Levando toda esses pontos em consideração, qual seria a nossa conduta: para pacientes que já utilizam produtos a base de soja, não há necessidade de retirar. Para pacientes que não tem o hábito, talvez não haja urgência em incluir. Não há necessidade em restringir esse consumo visto a pequena presença desses compostos em alimentos. Então devemos suplementar? Não recomendamos a suplementação desses compostos em nenhum momento durante o tratamento do câncer de mama.

E, por último, não podemos deixar de comentar sobre a qualidade da soja no Brasil. Estamos falando de um dos produtos com maior uso de agrotóxicos, que é prejudicial para o paciente com câncer. Por isso, sempre que possível, recomendamos o uso da soja e dos seus produtos na forma orgânica.

Referências:

Este é o artigo que lemos essa semana à Senthilkumar HA et al. Phytotherapy Research 2018

Paterni I et al. Steroids 2015

Tuli et. al Front. Pharmacol 2019

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