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Uso de antioxidantes durante o tratamento oncológico




O uso de suplementos dietéticos durante o tratamento oncológico é uma das grandes questões quando estudamos nutrição e oncologia. Isso porque, em uma célula saudável existe um balanço fino do nosso corpo em relação ao estado de oxidação e antioxidação, sendo que a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) é necessária para a nossa proteção. Quando existe um excesso de oxidação associado a uma capacidade reduzida de neutralizar esses compostos, podemos estar mais suscetíveis a certas doenças, entre elas o câncer.


Uma vez instalado, o câncer se torna um grande maquinário do processo redox, tentando ao máximo balancear essas quantidades. O tumor em si produz muitas EROs, mas o excesso pode ser prejudicial para ele. Vemos isso no próprio tratamento oncológico, que é citotóxico. Ou seja, irá causar toxicidade a célula, entre outros mecanismos para aumentar a quantidade de oxidação a fim de “matar” a célula tumoral.


Com isso, surgem algumas perguntas importantes. Como, devemos procurar uma antioxidação nesse cenário? Sabemos também que o excesso de substâncias antioxidativas podem se tornar pró-oxidativas devido ao processo redox. Um paciente muito oxidado como, por exemplo, o tabagista, responde mal a essa suplementação. O paciente oncológico, que é de base muito oxidado, também se beneficia?


Vale a pena ressaltar que esses questionamentos são realizados baseados na suplementação desses compostos antioxidantes, e não de seu consumo na nossa alimentação. Isso porque não é possível, por meio da alimentação, ter dosagens tão elevadas como na suplementação.


Com essa quantidade de questionamentos, só podemos fazer uma coisa: buscar referências atualizadas e de qualidade na literatura. Por isso, queria falar de um trabalho publicado em 2020 pelo Journal of Clinical Oncology – um dos principais na área. A população estudada foram mulheres com câncer de mama durante o tratamento quimioterápico. Esse estudo encontrou que mulheres que relataram o uso de antioxidantes como vitamina A, E, C, carotenoides e coenzima Q10 durante o tratamento, tiveram maior taxa de recidiva. Com esse resultado, foi recomendada cautela no uso desses antioxidantes durante o tratamento. Vale que ressaltar que apesar de vários pontos positivos, estudos com esse desenho apresentam associação e não causalidade.


Um outro estudo publicado também no último ano fez uma revisão da literatura olhando os dois lados: os antioxidantes como protetores ou promotores do câncer. A conclusão, do autor depois de fazer essa busca e correlacionar com vários desfechos, é que de fato os antioxidantes possuem papéis dúbios na célula tumoral e que mais estudos devem ser feitos para que seja possível entender qual desses compostos é (ou não) benéfico ao paciente. Também acho importante ressaltar que a maioria desses estudos foram conduzidos in vitro, ou seja, nas células tumorais em um sistema fechado.


Podemos citar também um exemplo associado à cardiotoxicidade, um efeito colateral importante do tratamento que tem relação com o excesso de oxidação no músculo cardíaco, que a curto ou longo prazo pode gerar complicações ao paciente. Estudos em ratos mostraram segurança e eficácia na diminuição da cardiotoxicidade causada pela doxorrubicina com uso de resveratrol, sugerindo uma possível sinergia entre esses dois compostos.


Ou seja, com essas evidências é possível concluir que não há uma resposta pronta para a pergunta se devemos ou não usar antioxidantes em pacientes durante o tratamento – uma conclusão também feita por Ilghami et al. em um artigo publicado na Nutrition Reviews em 2020. Não há evidência suficiente para entendermos de fato como esse antioxidante vai se comportar no tratamento oncológico. Com isso em vista, é com certeza recomendado precaução na suplementação – especialmente no excesso – desses compostos em pacientes. A sua recomendação deve ser bem embasada e individualizada para cada paciente.


Referências:

Ambrosone et al. JCO 2020

Dstmalchi et al. Life Sciences 2020

Arafa et al. J Physiol Biochem 2014

Ilghami et al. Nutrition Reviews em 2020

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