
INO Nutrição
Dieta enteral: cuidados

O sucesso da terapia nutricional enteral não depende apenas da fórmula escolhida. Algumas medidas são necessárias para garantir que se evite eventos adversos como diarreia, aspiração, contaminação da dieta e infusão abaixo do prescrito.
Muitos sintomas decorrentes da má administração da dieta podem ser confundidos com toxicidades do tratamento oncológico. Exclua as possibilidades vindas da alimentação e avalie junto com a equipe multidisciplinar se há efeito pelos medicamentos, como antibióticos e quadros de diarreia, e qual conduta pode ser tomada para englobar as diferentes especialidades, sem prejudicar o paciente.
Para avaliar se as intercorrências são pela dieta, citamos alguns cuidados a serem tomados:
· Diarreia: pode ser sinal de infusão de dieta muito rápida e em grande volume. Reduza a velocidade de infusão e fracione mais a dieta. Avalie a possibilidade de inclusão de fibras na dieta;
· Refluxo: também pode ser devido ao volume de infusão muito rápido e em grande volume. A sonda em posição pós pilórica é mais indicada em pacientes com risco de aspiração, assim como a infusão por bomba. Reduza o volume e a velocidade de infusão da dieta. Além disso, oriente o paciente a manter a cabeceira da cama elevada, entre 30° à 45°;
· Constipação: muitos medicamentos e a imobilidade do paciente, além da própria patologia, podem levar à menor motilidade intestinal. Avalie a quantidade de água oferecida entre as dietas e a possibilidade de inclusão de fibras;
· Êmese: importante verificar o volume e a velocidade de infusão. Entretanto, avalie também com a equipe multidisciplinar se é caso de obstrução.
No hospital, podemos contar com o lactário para a manipulação da dieta e equipe de enfermagem para o processo de infusão, além de protocolos de higiene que visam a segurança do paciente e a prevenção de contaminações. Mas em consultório, ou ao orientar a alta para a terapia nutricional enteral em domicílio, precisamos reforçar alguns cuidados:
· Armazenamento da dieta
Após comprar e antes de abrir o pote ou frasco, é fundamental realizar a higienização do recipiente para evitar contaminações. Guardá-lo em local sem incidência direta da luz, seco, limpo e isento de sujidades. Fechar bem a embalagem antes de guardar novamente.
A validade da dieta líquida após aberta é de até 24 horas em geladeira. Após esse período, a dieta deve ser descartada.
· Manipulação da dieta
Lavar bem as mãos e antebraços com água e sabão.
Higienizar a bancada em que será manipulada a dieta.
Atentar-se ao uso de roupa limpa e cabelo preso.
Verificar a data de validade e se a lata está com algum amassado ou a embalagem rasgada.
Utilizar frasco e funil limpos e secos, além de tomar cuidado para não molhar a dieta caso seja em pó e evitar contato direto com a dieta líquida.
Caso seja necessário a reconstituição da dieta em pó, utilizar apenas água mineral ou filtrada e fervida.
A dieta deve estar em temperatura ambiente para infusão – caso esteja na geladeira, retirar e colocar no frasco entre 30 e 60 minutos antes da infusão. Não ferver, aquecer em micro-ondas ou deixar a dieta em banho maria, pois pode alterar a característica da dieta.
· Infusão da dieta
Não utilizar equipos velhos ou sujos.
Avaliar a tolerância de acordo com a velocidade de infusão da dieta.
Evitar infusões muito rápidas pois podem gerar desconforto e diarreia.
Manter a cabeceira da cama elevada de 30° à 45° durante a infusão e permanecer na posição por 20 a 30 minutos após a infusão da dieta.
Caso sobre dieta, esta deve ser descartada.
· Higienização do equipo e frasco
Após a dieta, desconectar o equipo e infundir entre 30 e 50 ml de água na sonda, com auxílio de uma seringa.
Ao lavar os utensílios, deixar secar naturalmente. Não usar panos para secar.
O mais recomendado é usar um equipo e frasco por dia.
Caso seja necessária a infusão de medicamentos pela sonda, oriente que a realização ocorra em horários alternados com os da dieta, para evitar interação e obstrução. Alinhe as interações com a equipe multidisciplinar, caso necessário.
Uma boa orientação aos cuidadores e paciente, associada à reavaliação periódica, evita intercorrências e favorece a manutenção ou melhora do estado nutricional, o que reflete no tratamento e qualidade de vida do paciente.
Referências:
BRASPEN J. 2018.
Boullata J. J Parenter Enteral Nutr. 2017.
Stroud, M. Gut. 2003.
Araújo I. HEWAB/HU-UNIVASF. 2017.
Brasil. Ministério da Saúde. 2016